Juros disparam, dívida explode e o Japão aciona alertas que podem mexer no yen, derrubar mercados, forçar venda de ativos globais e reacender riscosJapão aciona alertas: veja como juros do Japão, dívida do Japão e yen japonês podem mexer com os mercados globais nos próximos meses.

o Japão, o yen japonês reage e os mercados globais monitoram riscos de novas turbulências

Com o Japão aciona alertas na sua situação fiscal e na curva de juros, investidores do mundo inteiro voltam a olhar para o país que há décadas desafia modelos econômicos tradicionais. Um movimento mais forte na dívida do Japão, no yen japonês e nos juros do Japão tem potencial para mexer em preços de ativos em vários mercados globais ao mesmo tempo.

Nas últimas semanas, o Japão aciona alertas ao combinar juros do Japão em alta, dívida do Japão ainda em patamar extremo e sinais de mudança na política do Banco do Japão, em um contexto em que a inflação deixou de ser um problema de deflação crônica e passou a rodar perto de 3 por cento. É esse conjunto que levanta a pergunta que ninguém ignora: até onde essa pressão vai e como ela pode contaminar a economia mundial.

Por que o Japão aciona alertas agora

O Japão não é um país qualquer no tabuleiro. É o maior credor externo do planeta e a segunda maior economia desenvolvida em termos de profundidade de mercado de capitais, com bancos, seguradoras e fundos de pensão espalhados pelos principais mercados globais. Por isso, quando o Japão aciona alertas, não se trata apenas de um problema doméstico.

O ponto de partida é um desequilíbrio que vem de longe. A dívida do Japão já passou de 200 por cento do PIB e chegou a algo próximo de 240 por cento em alguns momentos, se mantendo há anos em um patamar que, em outros países, seria visto como virtualmente insustentável. Ainda assim, o país vinha convivendo com isso graças a juros do Japão muito baixos e a um Banco do Japão disposto a comprar grandes volumes de títulos públicos.

O que muda agora é que os juros do Japão começaram a subir em toda a curva ao mesmo tempo em que o governo decide aumentar ainda mais o gasto, com um novo pacote de estímulos da ordem de 117 bilhões de dólares financiado por mais dívida do Japão. Ou seja, o país aciona o acelerador fiscal enquanto a conta de juros fica mais pesada.

Juros do Japão em alta e a curva que assusta

Por anos, o Japão foi sinônimo de juro zero. Isso está deixando de ser verdade. A curva de juros do Japão começou a subir em todos os vencimentos, do curtíssimo prazo aos títulos de 30 e 40 anos, e isso é um dos principais motivos pelos quais o Japão aciona alertas agora.

Os movimentos recentes mostram:

O tesouro de 3 meses, que por muito tempo rodou perto de zero, disparou neste ano e saiu da inércia.

Os títulos de 1 e 2 anos romperam a casa de 0,8 por cento e 1 por cento, algo que o mercado não via desde 2008.

Os títulos de 10 anos voltaram para a região de 1,8 a 1,9 por cento, tentando encostar em 2 por cento, patamar que não se via desde meados dos anos 2000.

Na ponta longa, papéis de 20 e 30 anos passaram a girar perto de 3 por cento e 3,4 por cento.

Em termos absolutos, esses juros do Japão ainda parecem baixos quando comparados a Brasil ou Estados Unidos, mas em termos relativos, para um país tão endividado, a mudança é brutal. Cada ponto percentual a mais na curva representa uma quantidade gigantesca de recursos que o Tesouro precisa pagar para rolar a dívida do Japão.

Dívida do Japão, novo estímulo e a conta que não fecha

Enquanto a curva sobe, o governo japonês, sob uma nova primeira ministra, prepara um orçamento com mais de 100 bilhões de dólares em estímulos financiados por emissão adicional de dívida do Japão. A mensagem para o mercado é contraditória: mais gasto público e mais endividamento em cima de uma base que já é a maior entre as economias desenvolvidas.

A dívida do Japão, que vinha recuando levemente em proporção do PIB após o pico ao redor de 240 por cento, segue ainda perto ou acima de 200 por cento, dependendo da métrica. Em qualquer critério razoável, a dívida do Japão continua em terreno extremo, e o aumento de gastos sinaliza que esse quadro pode se agravar.

Nesse contexto, é natural que os juros do Japão peçam um prêmio maior para continuar financiando o Tesouro, o que fecha um ciclo perigoso: juros sobem porque a dívida é alta e cresce, e a dívida fica ainda mais difícil de rolar porque os juros subiram.

O papel do Banco do Japão e o impacto na inflação

Durante anos, o Banco do Japão foi o grande amortecedor desse desequilíbrio, comprando uma fatia enorme da dívida pública e mantendo os juros do Japão artificialmente baixos. Houve momentos em que o banco central chegou a deter mais de 45 por cento de todos os títulos públicos japoneses em circulação.

Agora, o cenário é outro. O Banco do Japão começou a reduzir gradualmente essa participação, que caiu para algo próximo de 40 por cento, enquanto a inflação finalmente apareceu. Depois de décadas de medo de deflação, a inflação no Japão chegou a rodar perto de 4 por cento e, recentemente, ficou em torno de 2,9 por cento, em alguns momentos acima da inflação americana.

Para um banco central que sempre lutou contra a falta de inflação, esse novo quadro é uma mudança de paradigma. Por isso, o Banco do Japão passou a sinalizar que pode elevar a taxa básica de juros, hoje ao redor de 0,5 por cento, e reduzir o grau de estímulo, mesmo reafirmando que ainda não se trata de um juro restritivo. Só a possibilidade de alta já foi suficiente para aumentar a volatilidade.

É nesse ponto que o Japão aciona alertas de verdade: juros do Japão em alta, dívida do Japão gigante, espaço menor no balanço do Banco do Japão e inflação acima da meta formam um conjunto que exige mais cuidado do investidor global.

Yen japonês, carry trade e o fio que conecta tudo

A moeda é o canal mais visível pelo qual o Japão aciona alertas no resto do mundo. O yen japonês é peça central em uma dinâmica conhecida como carry trade, em que investidores se endividam em uma moeda de juros baixos para aplicar em moedas de juros mais altos, como o dólar, o euro, a libra ou até o real.

Enquanto o diferencial de juros entre Estados Unidos e Japão é grande, faz sentido tomar yen japonês barato, vender essa moeda e aplicar em títulos americanos. Isso pressiona o yen japonês para baixo e fortalece o dólar, por exemplo. O problema é que, quando os juros do Japão começam a subir ou o mercado teme mudanças bruscas, o carry trade pode se inverter.

A reversão do carry trade já deu um susto nos mercados em outros momentos, com queda forte na bolsa japonesa e impactos em outros índices. Mais recentemente, houve episódios em que a valorização repentina do yen japonês coincidiu com movimentos agressivos em ativos como o Bitcoin, mostrando que o mercado segue nervoso com qualquer sinal vindo do Banco do Japão.

Para complicar, a relação histórica entre o diferencial de juros de 10 anos entre Estados Unidos e Japão e a taxa de câmbio do yen japonês se descolou nos últimos meses. O spread de juros diminuiu, mas o yen japonês continuou se depreciando, abrindo uma divergência que, em algum momento, tende a ser corrigida. Quando essa correção acontece, normalmente não é em silêncio.

Japão aciona alertas também pelos fluxos de capitais

Outro canal importante é o dos fluxos de capitais. O Japão é o maior credor externo do mundo, somando o que os japoneses detêm em ativos no exterior menos o que estrangeiros possuem em ativos no Japão. São bancos, seguradoras e fundos de pensão que há décadas compram títulos americanos, europeus e de outros países.

Se o governo japonês aumenta o déficit e precisa financiar uma dívida do Japão ainda maior, e se o Banco do Japão tem menos espaço para expandir seu próprio balanço, quem pode ser chamado a cobrir essa conta são os investidores domésticos: famílias, seguradoras, fundos de pensão. A forma mais óbvia de fazer isso é vender parte dos ativos no exterior e repatriar recursos.

Quando o Japão aciona alertas por esse lado, o que o mercado teme é um movimento em cadeia como:

Venda de ações americanas e europeias por investidores japoneses.
Venda de títulos do Tesouro dos Estados Unidos e de dívidas corporativas globais.
Repatriação dos recursos em direção aos títulos públicos japoneses.

Esse tipo de reversão de fluxo não afeta só o yen japonês. Afeta valuations, spreads de crédito e índices em vários mercados globais ao mesmo tempo. Esse é o tipo de risco que não aparece no dia a dia, mas que, quando se materializa, costuma apertar a liquidez de forma rápida.

China, Estados Unidos e a fotografia comparativa dos juros

Outra peça interessante do quebra-cabeça é a comparação do Japão com a China e com os Estados Unidos. Hoje, os títulos de 30 anos da China pagam menos que os títulos de 30 anos do Japão, algo na casa de pouco mais de 2 por cento para a China contra algo perto de 3,4 por cento no Japão.

Na prática, a China começa a se parecer com o antigo Japão no sentido de lutar contra o fantasma da deflação, enquanto o Japão se move na direção contrária, tentando controlar uma inflação que finalmente apareceu.

Ao mesmo tempo, o diferencial entre o juro de 10 anos americano e o juro de 10 anos do Japão, indicador clássico para medir o incentivo ao carry trade, está menor do que já esteve, sem que isso tenha se traduzido em alívio consistente para o yen japonês.

Essa combinação reforça a sensação de que o Japão aciona alertas porque está em um ponto de inflexão raro: sai de décadas de juro zero e deflação e começa a enfrentar, ao mesmo tempo, inflação mais alta, juros do Japão em alta, dívida do Japão enorme e um mercado global mais sensível a qualquer aperto de liquidez.

O que o investidor deve observar quando o Japão aciona alertas

Quando se fala em Japão aciona alertas, vale acompanhar alguns pontos com atenção especial:

O comportamento da curva de juros do Japão, principalmente nos vencimentos intermediários e longos, para ver se a pressão continua ou se estabiliza.

Os próximos anúncios do Banco do Japão sobre taxa básica e compras de títulos, que indicam quanto estímulo ainda existe.

A trajetória do yen japonês frente ao dólar, ao euro e a outras moedas relevantes, buscando sinais de reversão abrupta.

Qualquer discussão sobre necessidade de maior participação de investidores domésticos no financiamento da dívida do Japão, que poderia acelerar vendas de ativos no exterior.

Não se trata de prever um colapso iminente, mas de reconhecer que o Japão aciona alertas em um momento em que a margem de erro parece menor e os efeitos de qualquer choque tendem a ser globais.

Por que o Japão aciona alertas para a economia mundial

Depois de anos servindo como exemplo de país que podia conviver com juros zero, dívida altíssima e crescimento fraco sem grandes rupturas, o Japão aciona alertas porque vários desses pilares estão se mexendo ao mesmo tempo. Os juros do Japão sobem, a dívida do Japão continua enorme, o Banco do Japão recua um pouco do papel de comprador ilimitado, a inflação acorda e o yen japonês volta a ser um termômetro de risco para os mercados globais.

Se essa transição for suave, os mercados globais podem se adaptar com ajustes graduais em câmbio, juros e fluxos de capitais. Se não for, o mundo pode assistir a episódios de volatilidade mais forte, com impacto em bolsas, moedas, criptomoedas e títulos de vários países.

E você, olhando para esse cenário em que o Japão aciona alertas em juros, dívida, yen japonês e mercados globais, acha que estamos diante de um ajuste controlado ou de um risco subestimado para a economia mundial?

Autor

  • Carla Teles

    Produzo conteúdos diários sobre economia, curiosidades, setor automotivo, tecnologia, inovação, construção, com foco no que realmente importa para o mercado brasileiro. Aqui, você encontra as principais movimentações da indústria. Tem uma sugestão de pauta ou quer divulgar sua vaga? Fale comigo: carlatdl016@gmail.com

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *